O que não te contaram sobre o controle de preços
Estrutura montada na época da ditadura militar favorecia cartelização.
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O consultor Luiz Affonso Romano, que comandou os preços em parte da época militar, mostra algumas pérolas daquele período, de 1965 a 1985. As solicitações de aumento de preços, apelidadas de SAPs, eram encaminhadas pelos sindicatos patronais ou associações de classe. Estas, mais ágeis, nasceram em profusão a partir de 1965 e proliferaram setores afora, às vezes com alvará na sala de um executivo de empresa líder em vendas.
As SAPs utilizavam as estruturas de custos da líder do setor e eram assinadas pelas demais empresas fabricantes do produto – as chamadas de caudatárias. Se encaminhadas pelo órgão de classe, as solicitações de aumento tinham um prazo de análise menor que os 45 dias oficiais. Os produtos novos também. “Era a cartelização oficializada pelos que deveriam combatê-la”, ironiza Romano.
Houve período em que o reajuste era sigiloso, só comunicado à empresa solicitante. Quando o pedido ia via associação, grupos de executivos ficavam reunidos, próximos à sala onde semanalmente eram analisados os reajustes de preços, à espera do resultado para, de pronto, avisar em conjunto, às diretorias das fábricas, que no dia seguinte implementavam o reajuste. O mesmo percentual igual e no mesmo dia. Beleza!
Algumas empresas líderes chegavam a fazer lobby para permanecer com os preços controlados. As empresas não se dedicavam à inovação, produtividade. Quase nada era importado, e a maioria tinha um prestigiado sócio brasileiro.
Publicado em 13/01/20 no monitordigital.com.br