Empreendedorismo nos EUA, parte 2: uma boa ideia basta…?

Boas ideias movem o mundo.
 
Novas ideias geram evolução, obviamente, e isto vem desde quando o homem se conhece por gente: o controle sobre o fogo, as armas para a caça, peles de animais para se proteger do frio, carruagens, motor a combustão, automóveis, aviões, transatlânticos, foguetes, micro-ondas, e por aí vamos.
 
Uma ideia para ser boa tem que necessariamente ser nova…?
 
Então seriam novas ideias sempre boas ideias… E ideias que não são novas não seriam boas? Podem ideias antigas de serviços ou produtos já existentes serem boas ideias para se empreender?
 
Boas ideias não são obrigatoriamente novas, e novas ideias não são obrigatoriamente boas.
 
No empreendedorismo, quer seja nos Estados Unidos ou em qualquer lugar do mundo, o fato de se ter uma boa ideia, uma ideia criativa, não quer dizer que você conseguirá transformá-la em um empreendimento de sucesso. Uma excelente opção de empreendimento nasce muitas vezes de uma vocação transmitida de pai para filho, um trabalho de graduação, ou mesmo uma sugestão de um colega ou de um parente. Para dar um exemplo, conheci (assim como vocês também devem conhecer diversos casos) vários empresários que tinham ótimas ideias, lançaram no mercado, mas o mercado ainda não estava pronto para absorver o produto/serviço. A iniciativa foi um fracasso – e depois de dois ou três anos, o mesmo produto foi lançado, exatamente com as mesmas características, preços, atributos, campanha e tudo mais, e foi um tremendo sucesso. O “timing” também é importante – sincronismo entre a maturidade do mercado e a proposta de valor de sua oferta.
 
Uma coisa é certa: é essencial que o empreendedor estude e entenda o mercado, antes de começar a investir. Muitas vezes o “funding” de sua empresa pode consumir as economias de uma vida toda, ou mesmo valores arrecadados de família e amigos (F&F – “Family & Friends”), uma prática bem comum nos EUA, ou uma dívida com uma instituição financeira, que pode levar algumas décadas para ser quitada.
 
Então, estude bastante o que deseja fazer.
 
Encontre um nicho!!! Mas não se esqueça de se assegurar de que exista demanda para seu produto ou serviço na região em que pretende atuar.
 
Para o empreendedor, que normalmente trabalha muito mais do que um assalariado pois está se dedicando à sua empresa, é importante que busque aliar sua satisfação pessoal a seu trabalho diário. Desde que esta fórmula ainda considere o terceiro elemento: a empresa precisa ser lucrativa, se o empreendedor deseja tirar seu sustento dela.
 
O S.B.A. (Small Business Administration), agência federal orientada a apoiar, fomentar, qualificar e financiar os pequenos empresários nos Estados Unidos, possui um estudo anual chamado “Small Business Profile”. Neste estudo, resumido em três ou quatro páginas, um dos indicadores auferidos é o nível de satisfação do empreendedor em, efetivamente, empreender. O estudo indica que 77% dos empreendedores encontram-se entre “feliz” e “muito feliz” em empreender, mesmo que ganhem menos do que quando eventualmente eram assalariados.
 
O mercado dos Estados Unidos representa o maior mercado consumidor do mundo. De acordo com dados do Banco Mundial e da OECD, o mercado mundial de consumo em 2018 representou US$ 48,611 trilhões. Já o mercado dos EUA bateu a cifra de US$ 13,999 trilhões, representando 28.8% do consumo residencial do mundo, seguido pela China com US$ 5,263 (10.8%) e em seguida pelo Japão com US$ 2,763 (5.7%). O Brasil não está mal, vem em 9o lugar com US$ 1,202 trilhões em 2018, um mercado onze vezes e meia menor que o dos EUA.
 
Trata-se de um mercado monstruosamente grande, onde o país apoia ardorosamente o empreendedorismo, que gira metade da economia e emprega 47.3% dos trabalhadores do país.
 
Há espaço para empreendedores estrangeiros? Sim, há. O mercado absorve sim.
 
Mas o maior mercado do mundo também é o mais competitivo e concorrido mercado do mundo; as abelhas vêm de todos os países em busca do melhor pólen para terem a melhor geleia-real.
 
Em uma reunião (videocall) com diversos consultores de várias partes do país pelo IMC-USA (Institute of Management Consultants), com consultores com experiência de mais de 15 ou 20 anos de consultoria a pequenas empresas, debatemos algumas questões sobre os fatores que levam um empreendedor a ter sucesso em todas as partes do país. Tínhamos, nesta reunião, consultores da California, Florida, Massachusetts, Pennsylvania, Maryland, New Jersey, Colorado e New York. Logicamente concluímos que são diversos fatores durante as diferentes fases de maturação de uma empresa que irão definir um caminho de sucesso, mas na fase inicial, no nascedouro da empresa, existem alguns pontos que devem ser levados em consideração com seriedade.
 
Segundo o grupo, é vital que o empreendedor faça algo que o torne feliz no dia-a-dia (pois é daí que “arrancamos” a força para seguir adiante), que seja algo que a região onde ele irá trabalhar esteja necessitando (independente de ser uma novidade ou não, pode até ser uma lavanderia ou um salão de beleza) e que preferencialmente evite o excesso de concorrentes, e, uma observação que eu considerei a “cereja do bolo” para o mercado americano, vindo de uma consultora de Maryland: procure ser especialista em um nicho específico e em uma oferta específica. Busque ser um dos poucos naquele nicho, e esforce-se de corpo e alma para ser o melhor. Isso fará com que seu serviço (ou seu produto) seja desejado e que você consiga remunerar sua estrutura e a você, de uma forma “premium”.
 
Fantástico.
 
Na hora lembrei do best-seller “A Estratégia do Oceano Azul”. Buscar o oceano azul e sair do oceano vermelho lotado de concorrentes e tubarões. Não, não há nada de novo, realmente. Mas o segredo está em no dia-a-dia conseguirmos nos policiar para aplicar estes conceitos na vida real e assim obtermos os frutos.
Encontre o nicho, faça algo que goste, estude e analise seu mercado e seja o melhor.
 
O brasileiro é mestre nisso!
 
Ainda hoje, em repercussão ao artigo anterior, recebi uma mensagem de um empreendedor brasileiro aqui nos EUA me dizendo que a ele o artigo sobre “as garagens” passou um sentimento mais que agradável. Veio empreender, munido de seu conhecimento e experiência em construção civil, encontrou um nicho onde ele consegue ser um dos melhores do Estado, com planos de expansão nacional. O que ele fez: Elaborou um composto com enamel, uretano, cimento e outros ingredientes, onde gera-se resistência e maleabilidade plástica especificas, que permitem um trabalho decorativo que poucos no mercado conseguem fazer.
 
Nos pisos das garagens. E só em pisos de garagens, nada diferente disso.
 
Super especialização: Especializou-se em garagens, e hoje é reconhecido como um dos melhores do mercado para pisos de garagens. Bem específico. Em algumas dessas garagens, a obra chega a gerar mais de US$ 25 mil em receita, com lucratividade de mais de 70%.
 
E, no artigo anterior, nós aprendemos o quanto a garagem das casas é importante na cultura americana!
 
Brasileiro como empreendedor é bom demais.

 

ANDRÉ VACCARO
Consultor em Gestão de Negócios e Diretor do Núcleo Miami/FL_EUA da ABCO
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